Uso de árvores em áreas de PRV no Assentamento Liberdade (Minas Gerais)
Palavras-chave:
Agroecologia, reforma agrária, silvipastorilResumo
O Vale do Rio Doce tem a produção agropecuária como uma das atividades mais consolidadas da região, tendo por base em seu desenvolvimento a degradação ambiental intensa, a monocultura e a criação extensiva de gado. Nesse contexto, o Assentamento Liberdade desenvolve a produção de gado de leite sob os princípios do PRV. O projeto Implantação de Sistemas de Pastagem Voisin e o projeto Recuperando Áreas Degradadas nos Assentamentos de Reforma Agrária de Minas Gerais (RADAR) surgiram da necessidade de conversão da matriz tecnológica de produção para a Agroecologia. O presente estudo objetiva promover uma reflexão sobre as possibilidades da implantação de árvores nos PRVs das famílias. O componente arbóreo tem como parte fundamental do processo obter melhores rendimentos no âmbito econômico, ambiental e social. Neste estudo qualitativo foi realizado o levantamento bibliográfico e posteriormente o trabalho de campo através de entrevista semiestruturada, caminhada transversal e atividade formativa. As entrevistas foram respondidas por cinco famílias que utilizam o PRV para manejo da pastagem e pela coordenadora do Viveiro Florestal. A caminhada transversal foi realizada nos lotes das famílias pelas unidades de PRV, Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) do Assentamento. Todas as famílias acharam muito importante a presença de espécies arbóreas em áreas de pastagem. Através da caminhada, pôde-se notar uma pequena quantidade de árvores nas áreas de pastagens, bem como um processo de regeneração natural nas áreas de preservação e reserva. Durante a atividade formativa, as famílias demonstraram amplo conhecimento quanto ao potencial e múltiplos usos de árvores para a manutenção das vidas compreendidas no agroecossistema, através de experiências obtidas pelo uso forrageiro, medicinal e madeireiro das espécies. Também reconheceram a importância da presença de árvores nas áreas de pastagens e expressaram interesse em plantá-las. No entanto, apresentaram várias ressalvas para efetivação do plantio, dentre elas, a dificuldade em cuidar das mudas no campo, roçar em volta, fazer o controle de formigas, falta de mão-de-obra, carência de água, dificuldade de cercar ou isolar as mudas do pisoteio do gado, etc. As dificuldades apresentadas pelas famílias em implantar o componente arbóreo de forma significativa nas unidades de PRV, mesmo reconhecendo sua importância, evidencia um dos gargalos na implantação do sistema Agroecológico obedecendo a todos os seus princípios. Além de comprometer os efeitos da produção, também demonstra o quão influente ainda é o sistema extensivo para os agricultores daquele local. A transformação da agricultura convencional rumo à Agroecologia está intimamente relacionada aos processos de transformação da sociedade como um todo, passando necessariamente pelo fortalecimento da agricultura de base familiar e por profundas modificações na estrutura fundiária do País.