PRV como ferramenta de melhoria de vida para as famílias da agricultura familiar
Palavras-chave:
relato de experiênciaResumo
Local e caracterização da experiência:
O referido relato se dá a partir de uma vivência realizada com produtores de leite em sistema de Pastoreio Racional Voisin – PRV. Foi acompanhado durante três meses o trabalho da EMATER/ASCAR escritório municipal de Santa Maria (RS-Brasil) nas propriedades de agricultura familiar que implantaram o PRV como tecnologia de produção de animais. Porém, será relatada aqui apenas as experiências das famílias Santini, localizada no distrito de Pains, e Schimit da Rocha, localizada no distrito de Boca do Monte.
Foram observadas questões sociais, organizativas e produtivas do trabalho das famílias em relação ao modelo tecnológico empregado para a produção de leite. O método de trabalho estava circunscrito na extensão rural agroecológica visando sempre uma prática social que permita aos sujeitos do processo a compreensão do sistema e que possam ter autonomia do conhecimento podendo colocar em prática o saber de forma contínua e que interfira sobre a realidade na qual estão inseridos.
Objetivo: O objetivo deste trabalho é evidenciar e dialogar sobre a prática em extensão rural agroecológica focando na produção de leite de base ecológica em sistema de PRV, como ferramenta de promoção da qualidade de vida da agricultura familiar.
Desenvolvimento:
As visitas eram realizadas conforme a demanda e disponibilidade de cada propriedade. Em geral, tinham cunho produtivo de avaliação dos piquetes, do rebanho, da produção do leite; Uma vez por mês era feito o acompanhamento dos custos e das receitas da produção juntamente com a família e cada unidade familiar tinha disponível uma planilha em Excel para o gerenciamento da propriedade.
Algumas vezes as famílias eram consultadas se poderiam receber grupos de educandos de instituições de ensino, também eram convidadas a darem relatos de experiências em eventos da EMATER, convidadas a participar de dias de campo, e sempre foram abertas às propostas e a divulgarem seu trabalho e sua propriedade. Demonstrando assim o crescimento da família e o empoderamento do conhecimento da técnica fortalecendo os resultados positivos do sistema de produção agroecológico.
A evolução social e econômica das famílias observadas durante o período, fruto do trabalho de quase 10 anos de acompanhamento técnico e incentivo à produção agroecológica. As duas famílias tiveram um avanço muito grande, pois no período anterior ao PRV ambas as unidades tinham condições precárias de instalações e sistema de ordenha manual. A base da alimentação das vacas era silagem, ração comercial, mandioca, cana de açúcar, campo nativo extensivo e no inverno revolvimento do solo para implantação de pastagens.
Na família Schimit da Rocha, a atividade principal anterior era a soja, com intenção de suspender a atividade leiteira. Porém, com a participação em algumas reuniões do grupo de leiteiros e assistência técnica, aos poucos foram organizando o rebanho e a alimentação com implantação do PRV. Atualmente, 75 ha da propriedade estão sendo utilizados para desenvolver a atividade leiteira e aos poucos fazer a perenização total com forrageiras, como tifton e o capim elefante cv. BRS Kurumi.
Nos Santini, são 40 ha explorados. O projeto de PRV iniciou em 2011 em 13,8 ha com 40 piquetes bem como um processo de perenização de pastagens. Atualmente, a família é referência em produção com bases ecológicas, com manejo mais sustentável do agroecossistema, uso da homeopatia e respeito ao bem-estar animal.
Na primeira família no ano de 2016 havia uma produção mensal de leite 14.018 litros, renda líquida mensal de R$ 11.767,83 e renda líquida anual por hectare de R$ 3.945,00. Para o ano de 2018, a projeção é de 34.000 litros de leite por mês resultando numa renda líquida mensal de R$ 21.505,00 e ao final do ano obter R$ 4.265,45 de renda líquida por hectare por ano (MACHADO, 2018).
Na família Santini no ano de 2010, possuíam uma produção mensal de leite de 13.283 litros, uma renda liquida mensal de R$ 5.010,00 e a projeção para 2018, a produção mensal de leite é de 30.000 litros, arrecadando uma renda liquida mensal de R$ 17.500,00. A renda liquida por hectare ano saltou de R$ 1.503,00 em 2010 para R$ 5.250,00 em 2018.
Dificuldades:
As dificuldades encontradas estão para além do relato aqui apresentado, está nos anseios de como começar o debate e formação de novos projetos de PRV em outras áreas, pois acompanhar este trabalho em uma instituição de extensão rural é bom, mas nós como veterinários militantes precisamos mais do que saber a teoria: é colocá-la em prática.
Esta experiência nos permite perceber a importância da extensão rural como forma de troca de conhecimentos, mas, sobretudo seu cunho social, em que a utilização da técnica cria meios para que a comunidade envolvida consiga desenvolver modelos de produção alternativos e que, sobretudo se aproprie do conhecimento científico aliado à prática cotidiana. Tornando sua propriedade produtiva, sustentável e a família cada vez mais convicta de suas ações não se deixando levar pela propaganda enganosa de empresas que visam apenas a exploração dos camponeses.
Nome do Técnico que acompanhou: O técnico que acompanhou foi o médico veterinário Ricardo Lopes Machado, extensionista da empresa EMATER/RS-ASCAR escritório municipal de Santa Maria.
Resultados da experiência:
Durante esta experiência na Emater/ASCAR Santa Maria foi possível compreender a dinâmica da extensão rural agroecológica que atua na perspectiva da produção de alimentos limpos e saudáveis para a subsistência das famílias e consequentemente a comercialização.
Acompanhando de perto a assistência prestada aos produtores familiares de leite, é notável a diferença e as características da produção a pasto em sistemas de PRV. Desde que essas famílias aceitaram a proposta do PRV, as propriedades deram um salto de qualidade, em relação ao produto comercializado e ao bem-estar animal e social da família. No sistema de PRV é garantido aos animais soberania alimentar, além de ser um método agroecológico de produção, porque permite a recuperação do agroecossistema.
Neste modelo de extensão rural, o médico veterinário tem o papel fundamental de compreender a situação e saber dialogar com o camponês, para propor alguma mudança, pois os agricultores depositam muita confiança nos técnicos, com a expectativa de que tudo irá melhorar. Desta forma, o desafio é ainda maior quando são colocadas em debate, metodologias agroecológicas de produção.
Bibliografia citada
MACHADO, R. L. Produção de Leite no Rio Grande do Sul - 105 histórias inspiradoras da agricultura familiar. Esteio/RS: EMATER/RS - Ascar, 2018.