A experiência de jovens rurais da Baía da Ilha Grande-RJ em processos formativos
Educação e Agroecologia
Palavras-chave:
educação e agroecologiaResumo
A experiência de jovens rurais da Baía da Ilha Grande-RJ em processos formativos
The experience of rural young people from the Bay of Ilha Grande-RJ in formative processes
1SANTOS, Geisilane de Lima; 2BARBOSA, Shirlene C. Alves; 3SILVA, Lígia Moura; 4SANTOS, Gislayne de Lima; 5MOREIRA, Harrison de Oliveira
1lanelima2016.2@gmail.com; 2shirlene@ufrrj.br; 3ligiamouramalu@gmail.com; 4dudalia2020.2@gmail.com; 5harrisonmoreiradeoliveira@hotmail.com
Eixo Temático: Educação e Agroecologia
Apresentação
Meu nome é Geisilane de Lima Santos, tenho 23 anos, sou jovem rural, moradora do Assentamento Rural Fazenda Rubião, Serra do Piloto, município de Mangaratiba-RJ. Atualmente estou cursando o sexto período do curso de graduação em Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Desde 2015 participo do Colegiado Territorial Rural da Baía da Ilha Grande (BIG) e em novembro de 2017, durante a reunião do colegiado, foram divulgadas as inscrições para participar do projeto “Formação Agroecológica para Jovens Cidadãos do Rio de Janeiro”. Interessei pelo projeto, procurei mais informações, percebi que o mesmo poderia trazer muitos benefícios para mim e para o meu assentamento. A partir daí, eu e minha irmã, Gislayne de Lima dos Santos, de 18 anos, fizemos a inscrição e em janeiro de 2018 iniciamos a formação no referido projeto. Foi durante o primeiro tempo formativo que conheci o jovem rural Harrison de Oliveira Moreira, de 23 anos, morador na Serra do Matoso, município de Rio Claro-RJ. Também foi em uma reunião Colegiado Territorial Rural da Baía da Ilha Grande que o jovem rural Harrison O. Moreira se inscreveu para participar do projeto.
Contextualização da experiência
O projeto Formação Agroecológica para Jovens Cidadãos do Rio de Janeiro é uma parceria entre a URRJ e a Secretaria Especial de Agricultura familiar e desenvolvimento Agrário (SEAD) e teve como objetivo formar jovens rurais com idade entre 15 a 29 anos a procurarem caminhos para potencializar ações de viabilidade econômica sustentável, fortalecendo assim, a agricultura familiar em bases agroecológicas, visando a intensificação da participação social, a organização produtiva e o acesso a mercados, para a conquista de autonomia e afirmação do protagonismo juvenil, a valorização do espaço rural e a permanência dos (as) jovens em seus territórios/regiões. O projeto teve duração de um ano, de janeiro de 2018 a janeiro de 2019. Sua proposta metodológica foi por meio da pedagogia da alternância com cinco tempos formativos, os quais foram denominados Tempo Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC), foram três TE’s e dois TC’s.
Os TE’s foram realizados na UFRRJ, onde ficamos alojados no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC/UFRRJ) e as aulas aconteciam tanto na universidade como na Fazendinha Agroecológica km 47. Já os TC’s aconteceram em nossas localidades.
Cada jovem participante do projeto teve como compromisso multiplicar os conhecimentos adquiridos para outros jovens de nossas comunidades, por meio da metodologia jovem forma jovem. Os jovens das comunidades foram chamados de jovens de base. A carga horária para a formação com os jovens de base foi de 20 horas. Este relato de experiências vai apresentar as atividades desenvolvidas durante os TC’s, período em que foram desenvolvidas as atividades com os jovens de base, tanto com os jovens do Assentamento Rubião, Mangaratiba-RJ, como com os jovens da Serra do Matoso, Rio Claro-RJ. Cabe destacar que durante todo o projeto os (as) jovens tiveram o acompanhamento dos tutores.
Desenvolvimento da experiência
Eu e minha irmã optamos por desenvolver as atividades de formação com os jovens de base em escolas próximas à nossa residência. Eu ministrei a formação dos jovens de base Escola Municipal Antônio Cordeiro Portugal e a Gislayne de Lima Santos, na Escola Estadual João Paulo II, ambas no município de Mangaratiba-RJ. Já o Harrison de Oliveira Moreira optou por desenvolver as atividades com os jovens da Serra do Matoso e a formação aconteceu na Associação de Moradores da Serra do Matoso, Rio Claros-RJ. Em julho de 2018, após o segundo TE, a coordenação pedagógica do projeto formalizou uma parceria com as escolas citadas anteriormente. Abaixo apresentamos as atividades desenvolvidas, onde cada um de nós apresentamos nossa experiência.
- Escola Municipal Antônio Cordeiro Portugal – Geisilane de Lima Santos
As atividades foram planejadas junto com a direção pedagógica da escola e os alunos. As atividades foram desenvolvidas no segundo TC e os temas abordados foram sobre educação ambiental e horta escolar, onde pude organizar palestras e ministrar:
1.1. Prevenção à Degradação Ambiental:
Essa atividade foi desenvolvida com alunos do sexto ano do segundo segmento do ensino fundamental, onde organizei uma Palestra com os representantes do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), do Parque Estadual Cunhambebe, localizado no município de Mangaratiba-RJ. Os convidados falaram sobre como o INEA trabalha com preservação ambiental e após a palestra, realizaram uma dinâmica com os alunos para que pudessem localizar o Assentamento Rubião nos mapas, provocando uma discussão e reflexão sobre o local onde moramos e sobre o problema da degradação ambiental. Ao final pude perceber que a atividade contribuiu para que os alunos refletissem sobre seu comportamento no que diz respeito à preservação ambiental.
1.2. Horta Escolar:
Essa atividade também foi desenvolvida com alunos do sexto ano do segundo segmento do ensino fundamental. Durante o período de agosto à dezembro de 2018, desenvolvi várias oficinas sobre plantio e manejo agroecológico para implantação de uma horta escolar. O objetivo foi fazer com que os alunos procurassem uma mudança de hábito, procurando formas mais sustentáveis de vida e despertando o interesse em produzir alimentos em suas próprias casas.
Consegui envolver 15 alunos da escola, todos ficaram muito interessados e foram muito participativos.
Jovens de base da Escola Municipal Antônio Cordeiro Portugal
Vista aérea do local onde foi implantada a horta escolar
- Escola Estadual João Paulo II – Gislayne de Lima Santos
As atividades foram desenvolvidas com alunos do ensino médio (segundo e terceiro ano). A escolha dos temas baseou-se nos conhecimentos adquiridos durante a formação no segundo TE e, também, pela experiência que adquiri durante o estágio que fiz na Fazendinha Agreocológica km 47. Para o desenvolvimento das atividades, elaborei um projeto pra escola que foi intitulado de “Semear”.
O projeto Semear foi baseado nos princípios da agroecologia e sobre os ciclos de produção orgânica e agroecológica. Os temas abordados foram os seguintes: Desenvolvimento local, Manejo ecológico do solo, Plantio de hortaliças, Compostagem, Cobertura do solo. Além dessas atividades organizei uma roda de conversa sobre Agroecologia e uma visita dos alunos no setor de produção vegetal da UFRRJ.
Consegui mobilizar 15 jovens e foi uma troca bastante gratificante, onde levei bastante informação para os jovens de base e também aprendi muito com eles.
Visita no Setor de produção vegetal da UFRRJ
Turma do ensino médio da E. E. João Paulo II
- Turismo Rural na Serra do Matoso – Harrison de Oliveira Moreira
As atividades foram desenvolvidas com apenas seis jovens rurais, moradores na Serra do Matoso, município de Rio Claro-RJ. A dificuldade de mobilização dos jovens de base foi porque na Serra do Matoso não tem muitos jovens e poucos se interessaram em participar. O objetivo das atividades foi realizar um debate sobre turismo rural de base comunitária, dentro da perspectiva da agroecologia. Pude realizar a formação dos jovens de base na Associação de Moradores da Serra do Matoso.
A escolha dos temas foi no intuito de fazer uma reflexão sobre os temas e assuntos que estão surgindo na minha comunidade, como: emprego e geração de renda, turismo Rural e a Agroecologia. Foi organizado dois encontros para debater os temas em uma roda de conversa. Paralelamente às atividades com os jovens de base, a comunidade recebeu a visita dos alunos do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CTUR) e pude organizar um encontro dos jovens de base com os alunos do CTUR para ter uma integração entre os dois grupos. Essa visita foi organizada por uma professora do Departamento de Economia Doméstica e Hotelaria da UFRRJ.
Conversa sobre agroecologia
Roda de conversa sobre turismo rural
Principais resultados alcançados
Como resultado, tivemos a formação de 36 jovens de base. Além disso, por meio da formação oferecida pelo projeto Formação Agroecológica para jovens cidadãos do Rio de Janeiro, aprendemos a valorizar e reconhecer a importância do resgate da nossa identidade como jovem rural e da agricultura familiar como opção viável para permanência no campo. Para isso, é preciso valorizar nosso território e perceber seu potencial em proporcionar uma vida de qualidade, com geração de renda, especialmente, com o turismo rural.
Assim, a participação no projeto foi de grande valor, por ser uma experiência de convívio com outros jovens, onde tivemos o privilégio de aprender sobre suas culturas e saberes de suas diferentes regiões. Aprendemos juntos (as) a importância do trabalho coletivo e que nunca devemos nos esquecer das nossas origens.
Disseminação da experiência
Um dos objetivos do projeto foi estimular a juventude rural a buscar caminhos para uma formação de qualidade e, neste sentido, incentivados pela formação oferecida no projeto, seis jovens foram aprovados no vestibular da UFRRJ, entre eles o jovem Harrison de Oliveira Moreira que iniciou o curso de graduação em Educação do Campo. A convivência na universidade durante os Tempos Escolas e a oportunidade de estagiar na Fazendinha Agroecológica km 47 foi decisiva para a escolha dessa universidade para cursar o ensino superior. Além disso, por meio do projeto, estamos buscando ocupar espaços decisórios em nossas comunidades para debater as demandas e anseios da juventude.
É do nosso conhecimento que a proposta do projeto Formação Agroecológica para jovens cidadãos do Rio de Janeiro foi disseminada para o município de Maricá-RJ, onde a universidade iniciou, em junho de 2019, um novo projeto de formação para jovens, o qual foi intitulado “Juventude e Formação Agroecológica em Maricá”. Isso mostra o comprometimento de todas as pessoas envolvidas.
Foto: Gabrielle Fagundes (jovem do projeto). Coordenação, tutores e jovens participantes do Projeto Formação Agroecológica para jovens cidadãos do Rio de Janeiro.
Referências Bibliográficas
BARBOSA, S. C. A.; ABBOUD, A. C. S. (org.). Cadernos de Discussão e Práticas - Agroecologia e Juventudes: construção do conhecimento agroecológico; da produção ao consumo (apostila). Volume 02. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2018.
BRASIL. Caderno de Plano de Manejo Orgânico. Ministério da Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento. 2017.
______. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Projeto Formação Agroecológica para jovens cidadãos do Rio de Janeiro. Seropédica, 2017.