Mulheres agricultoras baianas e as cadernetas agroecológicas
Palavras-chave:
agroecologia, semiárido, relações de gênero, desigualdades; quintaisResumo
O estudo tem como objetivo investigar, no período de setembro de 2020 a agosto de 2021, o trabalho produtivo e reprodutivo realizado pelas mulheres agricultoras do semiárido baiano, em suas unidades familiares, por intermédio da Caderneta Agroecológica. Trata-se de um instrumento metodológico, político e pedagógico de monitoramento da produção agrícola e pecuária das agricultoras, em suas unidades familiares. Este instrumento de registro tem quatro colunas: consumo, doação, troca e venda, onde as próprias mulheres agricultoras anotam suas produções; dessa forma elas tomam consciência de seu valor na esfera produtiva, e não só na esfera doméstica, percebendo sua grande contribuição para a economia familiar e da comunidade. Esta pesquisa contribui para a agroecologia, ao sinalizar que é necessário utilizar ferramentas metodológicas específicas para o trabalho com mulheres, que possibilitem refletir sobre as desigualdades das relações sociais de gênero no universo rural, com as lentes feministas. Demonstra a contribuição das mulheres rurais para a agroecologia, para segurança e soberania alimentar das famílias, ao reconhecer e visibilizar tudo que foi produzido no período de pandemia do COVID-19, nos quintais agroecológicos e/ou em outro agroecossistema de sua gestão. Isso dá visibilidade à sua produção, demonstra sua geração de renda mensal para a família, mas também no âmbito público, além de revelar as práticas e saberes das mulheres como fundamentais à reprodução da vida. A pesquisa é qualitativa e quantitativa dentro da epistemologia feminista. Os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa foram a sistematização e análise das 2.707 planilhas em Excel preenchidas com os dados das anotações das 268 mulheres agricultoras nas Cadernetas Agroecológicas; cruzamento das respostas do Questionário de Caracterização Socioeconômica (QCS), que traz um perfil das mulheres agricultoras e a análise dos Mapas da Sociobiodiversidade, que foram desenhados pelas mulheres, onde elas identificam na sua unidade familiar os lugares em que elas são as protagonistas. Os principais resultados da pesquisa apontam que as 268 mulheres, ao longo de 1 ano, geraram uma renda total de produção de R$ 1.093.508,14 (um milhão, noventa e três mil, quinhentos e oito reais e quatorze centavos). Esse valor é a soma dos valores do consumo, doação, troca e venda de produtos de origem animal e vegetal, conforme anotados nas cadernetas, demonstrando um maior protagonismo das mulheres rurais na busca da autonomia econômica. Outro resultado foi a grande quantidade e diversidade de produtos diferentes – um total de 659 variedades. Mesmo com a subnotificação de produtos nas cadernetas, as mulheres têm contribuído com a existência de uma enorme variedade de sementes, alimentos, plantas medicinais e saberes, confirmando sua contribuição na garantia da soberania e segurança alimentar e na conservação da agrobiodiversidade. Concluímos que o estudo conseguiu identificar, analisar e confirmar a contribuição econômica, monetária e não monetária das mulheres agricultoras, no âmbito familiar e comunitário, ao evidenciar a importância e o valor monetário, do que é produzido no quintal para o consumo, doação e a troca - quantia que a família deixa de gastar. Confirma, assim, a importância do quintal agroecológico, como um espaço produtivo, de grande valor econômico e relevância, para a produção de alimentos saudáveis e de boa qualidade. As mulheres que utilizaram as Cadernetas Agroecológicas estão em um processo de empoderamento pessoal em decorrência da sua participação nas formações, troca de conhecimentos, informações, saberes e experiências, mas principalmente ao perceberem a importância de anotar, de contabilizar sua produção. Algumas tomaram consciência de que trabalham e não “ajudam” os maridos; isto leva à mudança de mentalidade resultando em um comportamento de autoconfiança, autorreconhecimento, autovalorização e o resgate da autoestima, através do qual as mulheres adquiriram ou fortaleceram seu sentimento de competência e de poder.
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