Editorial
Palabras clave:
editorial, encontro de PRVResumen
O III Encontro Panamericano sobre Manejo Agroecológico de Pastagens – PRV nas Américas, desta vez se realizou fora do Brasil e junto a uma das mais exitosas experiências de manejo agroecológico em PRV no mundo, “El Verdadero Paraiso”. O Encontro, realizado em Rufino, um pequeno município no interior da província de Santa Fé, teve a participação de 95 pessoas, e a apresentação de três palestras, quatro mesas-redondas e 14 trabalhos e/ou relatos de experiência, finalizando com uma visita ao projeto de Pastoreio Racional Voisin “El Verdadero Paraiso”, que tem 25 anos de manejo agroecológico. O Encontro teve a participação de pessoas e trabalhos de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, França, Itália, Panamá, Uruguai, Venezuela.
O I Encontro, realizado em Chapecó em 2011, teve três objetivos muito claros. Na época, vínhamos de uma experiência exitosa no Oeste de Santa Catarina de difusão e pesquisa da produção agroecológica de leite na região. A partir de um projeto de pesquisa - extensão aprovado no CNPq, nós do LETA-UFSC (Laboratório de Etologia Aplicada e Bem-estar Animal da Universidade Federal de Santa Catarina) tivemos a oportunidade de realizar um sem número de palestras, seminários, oficinas, projetos de uso integrado e sustentável da unidade de produção familiar, com a participação de alunos da Agronomia e do PGA (Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas) da UFSC. Tivemos, também, a oportunidade de realizar a primeira edição do Mestrado Profissional, direcionado aos técnicos que trabalhavam na região. Desse trabalho resultou algumas centenas de produtores de leite aderindo ao Pastoreio Racional Voisin na região. Já na época havia trabalhos importantes em outros países da América com manejo agroecológico de pastagens. Então, os objetivos foram: 1. reunir, possibilitar o encontro das pessoas que estavam praticando, estudando, pesquisando, orientando e ensinando sobre manejo agroecológico de pastagens, num fórum comum panamericano; 2. tornar públicas e registradas em Anais a pesquisa que já havia, e as diversas experiências, relatos, propostas de manejo agroecológico de
pastagens, possibilitando a troca de ideias; 3. difundir o manejo agroecológico de pastagens, em especial o PRV. O II Encontro, realizado no ano de 2014 em Pelotas, na Universidade Federal de Pelotas, teve os mesmos objetivos. Esse III Encontro tem os mesmos objetivos acima mencionados. Além, é claro do objetivo fundamental de encontrar-nos, celebrarmos os avanços do manejo agroecológico de pastagens. Entretanto, por se realizar em local de difícil acesso, mas inovando ao levar o debate para o campo, reuniu pessoas realmente interessadas. Os que vieram, e os que não puderam vir mas irão ler esses Anais, poderão estimular grupos de pesquisa, levar essas ideais para as instituições de ensino, pesquisa e extensão.
Como os Encontros anteriores, o III se caracterizou pela presença de professores, técnicos, pesquisadores, estudantes e produtores. Essa diversidade de público sempre gera ricos debates, questionamentos e frutíferas trocas de experiências nos espaços formais (apresentações)
e informais (pausas de café). Aliás, excelente café oferecido nos intervalos das dependências da Sociedade Rural de Rufino, onde se realizou o evento. Instalações muito acolhedoras e eficientes, que proporcionaram um excelente ambiente para o Encontro.
A novidade deste Encontro foi a participação de europeus que relataram experiências
diversas de manejo agroecológico de pastagens no Velho Continente, e inclusive uma nova
experiência de PRV na França, país de André Voisin, mas com projeto de um brasileiro, Professor
LCPM. No III Encontro também houve uma homenagem expontânea ao Professor LCPM.
Técnicos, estudantes, produtores, professores, que não puderam comparecer ao evento,
mandaram suas homenagens ao trabalho de disseminação, aperfeiçoamento e formação em
Pastoreio Racional Voisin desde uma perspectiva Agroecológica ao qual este professor dedicou a
maior parte de sua vida profissional. Representando essas várias manifestações que foram
mostradas em vídeo, publicamos nesses Anais a do Professor Mario Luiz Vincenzi.
Uma das tônicas do III Encontro foi o papel das pastagens e da produção de ruminantes a
base de pasto nas emissões e sequestro dos gases do efeito estufa. O movimento, por nós alertado
no I Encontro, da produção animal se transformar em produção biotecnológica de laboratório, já
se faz realidade. Já se comercializa “camarão”, hambúrguer e outras “carnes” produzidos em
cultura de tecido em laboratório. Os defensores da carne biotec tem como um de seus principais
argumentos, a redução das emissões de gases do efeito estufa oriundas da produção animal, e o
bem-estar animal. De fato, a maior emissão de metano vem de ruminantes criados a pasto.
Entretanto, essa é apenas uma parte da história. Ruminantes criados a pasto bem manejados, e em
especial em PRV, tem o melhor balanço de Carbono, onde as pastagens sequestram mais
Carbono do que os animais emitem, e guardam um estoque de Carbono no solo muito superior a
solos de cultivos. No entanto, a carne “biotec” é produzida a partir de proteína vegetal, a soja.
Cultivo esse que tem crescido em área no mundo inteiro. Principal “commodity” e carro-chefe do
Agronegócio, essa cultura ocupa vastas áreas antes ocupadas por pastagens naturais, preciosos
ecossistemas como o Pampa, o Cerrado, e magníficas florestas como a Amazônia. Coincidência
ou não, grandes conglomerados da indústria da carne, como Tyson e Cargill, investem nos
Laboratórios de produção de carne, por exemplo no “Memphis Meats”. O “CEO” na ONG
“Merci for Animals”, que prega o vegetarianismo, também é investidor dos laboratórios de carne
artificial. Por outro lado, coincidência ou não, há uma forte ofensiva dos grupos vegetarianos e
veganos contra a produção animal em geral, sem discriminar a produção tipo “fazenda fábrica”
da criação a base de pasto.
Há que esclarecer-se as pessoas e grupos bem intencionados que se dedicam a justa causa
do bem-estar animal, de que a produção animal Agroecológica, especialmente de ruminantes,
pode e deve promover o bem-estar dos animais e das famílias que os produzem. Como vários
estudos tem demonstrado, o manejo agroecológico de pastagens, PRV ou não, promove a
biodiversidade, estoca Carbono, melhora a fertilidade dos solos, produz um alimento de
qualidade superior em todos os aspectos, com impacto ambiental mínimo, viabiliza a integração
com a produção vegetal sem venenos, recupera ecossistemas e promove o retorno de espécies
silvestres, mais ainda, promove a permanência da juventude no campo. Nenhum desses
benefícios é decorrente do “pacote soja”. O debate seguirá, e com certeza no IV Encontro
Panamericano sobre Manejo Agroecológico de Pastagens – PRV nas Américas, que pretendemos
ocorra em 2021 em Florianópolis, já haverá carne biotec em muitos supermercados do mundo, e
uma grande pressão contra a vaca no pasto. Mas também haverá mais pessoas esclarecidas e mais e melhores resultados de pesquisa e de relatos de como a Agroecologia aplicada à produção
animal tem efeitos benéficos para a Humanidade.
Agradecemos às entidades promotoras e apoiadoras do III Encontro, que são responsáveis
por todos os aspectos positivos deste Encontro: LETA/UFSC (Laboratório de Etologia e Bemestar
Animal da Universidade Federal de Santa Catarina), LECERA/UFSC (Laboratório de
Educação no Campo e Reforma Agrária da Universidade Federal de Santa Catarina), IAV
(Instituto André Voisin), El Verdadero Paraíso, Ministerio de Producción de Santa Fé, Argentina,
e nossos anfitriões, a SRR (Sociedad Rural de Rufino). Agradecemos também à todas as pessoas
que com seu trabalho voluntário construíram esse Encontro. Finalmente cabe um agradecimento à
ABA (Associação Brasileira de Agroecologia) e em especial à Professora Maria Virginia de
Almeida Aguiar, Editora dos Cadernos de Agroecologia, bem como aos demais Editores, que tem
publicado os Anais dos Encontros. É para nós um orgulho a existência da ABA e de suas
publicações, Revista Brasileira de Agroecologia e Cadernos de Agroecologia. Essas publicações
têm prestado um trabalho inestimável à Agroecologia. Nosso agradecimento e reconhecimento
aos que tem sustentado esse trabalho.
Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho
Coordenador geral do III Encontro Panamericano sobre Manejo Agroecológico de Pastagens –
PRV nas Américas
Coordenador da Comissão Científica e Editor dos Anais
Clarissa Silva Cardoso
SubCoordenadora da Comissão Científica e Co-Editora dos Anais